Olhei para ela…
A velha churrasqueira.
Quantas vezes explodiu em chamas vivas,
como um coração pulsante,
acendido pelas mãos do meu pai.
Hoje, está ali… tímida,
sem o brilho do fogo,
sem a dança das brasas,
sem o riso ecoando nas paredes do quintal.
Ao redor dela,
sempre um violão dedilhado com amor,
vozes em coro,
família unida em canções e gargalhadas.
Domingos cheios de vida,
de cheiros, de histórias,
de carne assando lentamente —
e ele, com seu avental,
um verdadeiro mestre do fogo.
O melhor pedaço?
Sempre para ela.
A rainha do seu coração.
E a gente assistia aquilo
como quem vê o amor virar refeição.
Hoje fiquei ali, parado,
olhando a churrasqueira calada,
e senti que preciso…
reaprender a viver.
Os domingos estão mais vazios,
não há mais o assado ritual,
o conselho à beira da grelha,
o brilho nos olhos dele ao servir.
Mas há lembrança.
Há saudade quente.
Há histórias acesas no coração.
Não se apaga o que foi chama.
Não se reescreve o que já brilhou.
Mas dá pra acender de novo —
de outro jeito,
com outras mãos,
com a mesma alma.
A churrasqueira vai precisar de outro piloto,
e eu,
de outro modo de viver os domingos.
Ela chora brasas de saudade,
eu choro memórias em silêncio.
Mas juntos…
vamos reaprender.
Domingo por domingo.
Chama por chama.