segunda-feira, 28 de julho de 2025

Reaprender os Domingos

Olhei para ela…

A velha churrasqueira.

Quantas vezes explodiu em chamas vivas,

como um coração pulsante,

acendido pelas mãos do meu pai.

Hoje, está ali… tímida,

sem o brilho do fogo,

sem a dança das brasas,

sem o riso ecoando nas paredes do quintal.


Ao redor dela,

sempre um violão dedilhado com amor,

vozes em coro,

família unida em canções e gargalhadas.

Domingos cheios de vida,

de cheiros, de histórias,

de carne assando lentamente —

e ele, com seu avental,

um verdadeiro mestre do fogo.

O melhor pedaço?

Sempre para ela.

A rainha do seu coração.

E a gente assistia aquilo

como quem vê o amor virar refeição.

Hoje fiquei ali, parado,

olhando a churrasqueira calada,

e senti que preciso…

reaprender a viver.

Os domingos estão mais vazios,

não há mais o assado ritual,

o conselho à beira da grelha,

o brilho nos olhos dele ao servir.

Mas há lembrança.

Há saudade quente.

Há histórias acesas no coração.

Não se apaga o que foi chama.

Não se reescreve o que já brilhou.

Mas dá pra acender de novo —

de outro jeito,

com outras mãos,

com a mesma alma.

A churrasqueira vai precisar de outro piloto,

e eu,

de outro modo de viver os domingos.

Ela chora brasas de saudade,

eu choro memórias em silêncio.

Mas juntos…

vamos reaprender.

Domingo por domingo.

Chama por chama.