terça-feira, 8 de abril de 2025

Quando os lugares se invertem


Chega um dia em que o mundo muda de lugar.

Sem alarde, sem aviso…

Só muda.

E de repente, somos nós que damos o colo.

Nós que seguramos as mãos trêmulas de quem um dia nos ensinou a andar.

Nós que cuidamos… de quem sempre cuidou da gente.

É um susto.

É uma dor que não sangra, mas aperta.

E nasce uma pergunta silenciosa que insiste em ficar:

Quem vai cuidar de mim… agora que eu cuido de quem sempre foi meu porto?

Ver minha mãe, aquela mulher que já enfrentou o mundo por mim,

agora perdida dentro dos próprios olhos,

é como ver um céu estrelado se apagando aos poucos.

Ela ainda é linda.

Mas agora frágil, tão frágil…

Como se estivesse conhecendo o medo pela primeira vez.

Como se estivesse se despedindo aos pouquinhos de si mesma.

E meu pai, tão firme, tão certo, tão dono de tudo…

Agora me espera pra vestir a roupa,

pra passear um pouco,

pra levar à boca o alimento.

Ele que já foi gigante…

Hoje repousa no meu cuidado,

e às vezes, me olha como se eu fosse tudo o que ele tem.

É estranho.

É bonito.

É dolorido.

Tudo junto.

Eu me sinto abençoado por poder amar assim.

Por poder retribuir.

Mas o medo…

ah, o medo anda colado em mim.

Porque por dentro, ainda sou filho.

Ainda preciso do abraço que me protege.

Ainda me derreto quando escuto “meu filho” com aquela voz cansada…

mas cheia de amor.

Cuidar de quem cuidou de nós é uma forma profunda de amar.

É como olhar o tempo nos olhos

e, mesmo com lágrimas, sorrir…

porque estamos ali — presentes — enquanto o tempo passa.


Junior Mosko