Entre manicômios e prisões, “Demência” foi encenado pelos alunos de 2017 do Múltiplas Linguagens do Núcleo de Artes Cênicas (NAC) do Sesi Sorocaba, tem direção de Junior Mosko e dramaturgia de Everton Oliveira. O espetáculo que explora o desenvolvimento da loucura em cada personagem é fruto de um trabalho de pesquisa do dramaturgo sobre o assunto e do grupo, que segue o tema escolhido pelo Sesi: de portas abertas.
O drama conta a história de uma família humilde, de uma pequena vila, que tem a sua única filha exposta a uma situação de violência sexual. Essa tragédia dá início a uma série de acontecimentos que mostram como cada morador da vila entra em um processo de demência, mostrando também como a ausência de assistência às pessoas que estão à margem da sociedade faz com que a loucura seja estimulada, mesmo quando não existe. Assim, uma das principais reflexões do espetáculo é sobre a forma como o delírio é uma consequência das más condições de vida e da falta de ajuda.
Concomitantemente, “Demência” retrata o cotidiano de um hospital psiquiátrico com o embate entre duas formas de atendimento representadas pelas médicas: de um lado, Dra. Muniz, que defende e esconde um tratamento violento e antiético; do outro, Dra. Silveira, com propostas inovadoras e suaves que caracterizam uma cura de portas abertas. Como resultado das pesquisas do grupo do NAC, essas personagens são inspiradas em histórias e práticas reais, denunciando injustiças que aconteciam com quem chegava aos manicômios.
Por fim, o espetáculo teatral ainda aborda a parte da sociedade esquecida e injustiçada, por meio da história de Bento, acusado de cometer o abuso com Suely, filha da família humilde citada. Além de ser alvo da mentira sustentada por um poderoso criminoso e ter sua vida arruinada por esse caso que o levou à prisão; lá dentro, o público pode ver um retrato do sistema carcerário brasileiro e do racismo no país.