No último sábado, 27 de setembro, às 16 horas, o Teatro Pedro Salomão foi palco de um acontecimento raro: um espetáculo que não apenas ocupou a cena, mas a transbordou, alcançando diretamente a alma de quem assistiu.

Com direção de Júnior Mosko, Tocando em Frente se apresentou como mais que uma montagem teatral: foi uma travessia poética de lembranças, uma homenagem à vida e ao legado de José Maria Rodrigues, carinhosamente conhecido como Zé Boi, pai do diretor.
Um teatro que nasce do coração

Mosko construiu um espetáculo em que cada detalhe foi retirado da própria memória e da emoção. Entre cenas leves e de uma intensidade arrebatadora, o diretor mostrou como o teatro pode ser simples e, ao mesmo tempo, grandioso. Sem recorrer a exageros de luzes, cenários ou efeitos, reafirmou sua convicção: o teatro verdadeiro nasce do ator e da direção.
O público foi categórico: Júnior Mosko se superou. Entre lágrimas, sorrisos e aplausos calorosos, repetia-se a certeza de que algo extraordinário tinha acontecido naquela tarde.

Uma obra feita de diversidade e harmonia
Com um elenco formado por 24 atores da Associação Fazendo Arte, de idades e trajetórias distintas, o espetáculo encontrou unidade na diversidade. Jovens e veteranos contracenaram em plena sintonia, dando vida a um trabalho que atravessou o tempo — da juventude ao envelhecer — em uma narrativa que tratava não apenas de Zé Boi, mas da própria condição humana.
A maquiagem assinada por Celso Lemos, suave e precisa, acompanhava essa transformação temporal. A sonoplastia de Douglas Turri, parceiro de longa data de Mosko, teceu a atmosfera sonora que envolveu o público. E a iluminação de Ives Sobral deu o tom exato a cada instante de emoção.
A produção de Adriano Pereira, a direção de cena de Daniela Fernanda e a co-produção de Matheus Felipe Max completaram o quadro de uma equipe afinada, que transformou o desafio em obra coletiva.
O espetáculo do tempo certo
Em um pouco menos de uma hora, Tocando em Frente mostrou que a intensidade está na síntese. Como defende Júnior Mosko, o bom espetáculo não precisa durar duas horas para cumprir seu papel. O essencial estava dito, e cada cena era tão envolvente que não havia espaço para o cansaço: o tempo se diluiu diante da arte.
Emoção e verdade no palco e na plateia
Antes do início, quebrando o próprio protocolo, Mosko falou ao público. Relembrou a importância dos pilares que sustentaram sua trajetória — família, educação e cultura — e reforçou que quem os carrega não tem como dar errado.
Na plateia, sua mãe, Benedita Moscone, testemunhou a força desse encontro. No palco, o elenco viveu a intensidade de um trabalho que não se limita à técnica, mas que pulsa de dentro para fora.
Ao final, aplausos em pé, abraços emocionados e uma frase ecoando entre os espectadores:
“Obrigado por esse presente. Você se superou.”
Um legado que se reafirma
Para quem acompanha a carreira de Júnior Mosko, não é novidade vê-lo explorar caminhos ousados do teatro pós-dramático, em trabalhos já consagrados como Retalhos da Memória, Vazio e Viesaque dos Inocentes. Mas em Tocando em Frente, Mosko foi além. Tocou não apenas a cena, mas as lembranças, o coração e a memória coletiva.
Foi arte como celebração. Foi vida transformada em poesia. Foi o extraordinário que, como o diretor havia prometido, iria acontecer.
E aconteceu.
Viva o teatro.
Viva Júnior Mosko.
Viva Zé Boi.
Viva, viva, viva!
