Hoje a mesa se vestiu de festa.
Panelas tilintaram como instrumentos de uma orquestra,
e Adriano, maestro do fogão, temperou cada detalhe
com pitadas generosas de amor.
Entre garfadas e risadas, o domingo ganhou cor,
ganhou cheiro de feijão tropeiro,
ganhou abraços e olhares cúmplices.
A cada brinde, um pedacinho de felicidade.
Mas o coração, esse companheiro silencioso,
guardava também um nó.
Ao abrir o vinho, a taça vazia me lembrou:
faltava alguém para brindar.
E mesmo no riso, a saudade soprava sua melodia.
Eu, que sempre gosto de guardar memórias,
me escondi atrás de fotos tímidas,
como quem diz: “Estou aqui, presente,
mesmo quando meu peito insiste em viajar no tempo.”
De repente, o clique esperado:
Adriano, seus pais, minha mãe… e eu.
Mas cadê ele?
Naquele instante, éramos cinco,
quando o coração gritava seis.
Sorri pequeno, segurei o choro,
e percebi que a ausência também aparece na foto,
mesmo quando não vemos o rosto.
E o consolo veio como um sopro:
um dia já existiu a foto completa,
a foto dos seis.
E isso ninguém me tira.