domingo, 6 de julho de 2025

O Espetáculo das Fotos

Domingo à noite,

depois de um almoço em família,

a noitinha chega sorrateira,

e eu, que não gosto muito do pôr do sol,

sinto o peito apertar —

como se o dia dissesse adeus

devagar demais.

Hoje, confirmei uma entrevista.

Quase dez anos esperando por ela,

esse jornalista paciente.

Mal sabem…

Sou tímido, avesso a holofotes fora do palco.

Não gosto de entrevistas,

mas aceitei.

Pediram fotos.

E então, tive que visitar o passado.

E desde que papai partiu,

essa palavra — lembranças —

ganhou um gosto diferente.

Quase amargo.

As fotos, agora, falam outra língua.

Revelam mais do que mostram.

E ao vê-las, percebo:

Fiz tanta coisa…

No teatro, na TV, nos bastidores da arte.

Me pergunto:

Como coube tanta vida?

Mas foi aí que percebi:

As fotos que mais escolhi

foram da minha família.

Dos palcos improvisados da casa,

das viagens, aniversários,

almoços com cheiro de afeto

e cafés com gosto de eternidade.

Que bom poder dizer

que meu maior espetáculo

teve mamãe, papai, irmãos, sobrinhos,

meu companheiro — meu porto,

minha parceira de quatro patas,

fiéis à cena e ao coração.

Que nossa sala foi palco,

que o sol nos iluminava de verdade

e que a trilha sonora era

papai no violão,

mamãe cantando,

e a cachorrinha latindo no compasso certo,

como quem aplaude com amor.

Esse espetáculo chamado vida em família,

que não tinha roteiro,

mas que sempre soube emocionar.

Agora, falta gente no palco.

O vazio pesa.

Mas o espetáculo tem que continuar.

E a força vem do amor que ficou,

do que ainda pulsa entre nós.

Como mamãe canta, suave e forte:

“Canta, canta, minha gente,

deixa a tristeza pra lá…”

E esse poema

é só um desabafo —

de quem precisou escolher algumas fotos

e acabou revivendo

toda uma história de amor.