Hoje faz um mês, pai…
Hoje faz um mês que o tempo parou,
Que o “oi, fio” ecoou pela última vez no vento,
E desde então, o silêncio tem morado com a gente.
As viagens ficaram nos mapas,
E o Guarujá virou lembrança nas ondas do mar.
Tem uma garrafa de vinho pela metade,
E eu não sei se espero você voltar
Ou deixo o tempo beber o resto.
O violão emudeceu…
As cordas sentem sua falta — não desafinam, apenas choram.
Zara, nossa pequena,
Te procura no portão com o rabinho ansioso
E os olhos perguntando por que você está demorando tanto.
Na sala, a cadeira balança só na memória,
E até suas flores…
Suas flores também estão quietas.
A amarela não brotou — talvez sinta sua ausência no sol.
Mamãe, sua benção viva,
Chora calada.
Tenta ser forte, canta sozinha,
Mas sua voz treme com as notas
Das canções que vocês dividiram por uma vida inteira.
A saudade virou moradora da casa,
Faz morada nos quadros, nos talheres, nas cortinas,
E no silêncio das 18h.
Hoje, pai, às seis em ponto,
Você se foi.
E desde então,
Choro escondido, para não pesar ainda mais os olhos da mamãe.
Mas vou confessar:
Às vezes choramos juntos — e isso dói e consola ao mesmo tempo.
Encontrei seu livro de orações,
E no meio, São Judas Tadeu, seu santo amigo.
Talvez ele esteja aí com você.
Talvez você leia para ele, como lia para mim.
Pai…
Onde estão suas músicas?
Seu “oi, fio”?
Seu “eu te amo”?
Cadê você no mundo?
Porque aqui…
Aqui ficou tudo tão mais cinza.
Tão mais silêncio.
Tão mais falta.
Mas mesmo assim, a gente ama você — todos os dias.
E espera, um dia, poder ouvir de novo:
“Oie, fio.”